17 Avril 2025
E tudo começa com a ceia derradeira
"Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim." Ele sabia, Jesus, que a Hora para a qual veio ao mundo havia chegado. Ele sabia que a intensificação do drama da Paixão iria abalar seus discípulos. Era necessário que eles fossem alimentados, fortalecidos, para continuar! E ele toma a decisão mais importante: manifestar aos discípulos seu amor e afeição. E, para isso, realiza um gesto radical: assume o lugar do servo, do escravo, abaixando-se para lavar os pés deles. O que, para nós, pode parecer apenas um gesto fora do comum, para eles foi uma profunda mudança. Os papéis se inverteram. O mestre tornou-se servo. Ele "se levanta da mesa, tira sua roupa e pega uma toalha... depois despeja água em uma bacia" e começa a lavar os pés de seus discípulos.
O evangelista é muito preciso em suas palavras. Quase podemos ver a cena se desenrolando diante de nós. E duas ações em particular chamam a atenção: a ação de pegar e a de derramar. Nós as encontramos na primeira leitura, onde o povo de Deus teve que pegar um cordeiro para o sacrifício e derramar seu sangue nas portas. Então, Deus passou meio deles. Com o gesto de lavar os pés, Deus passa novamente pelo meio dos seus. Poucas horas depois, Jesus vai pegar a sua cruz e derramar seu sangue nesse gesto de amor até o fim. E desta vez é o próprio Deus quem é o cordeiro do sacrifício. Mas antes do gesto final, ele realiza o gesto de lavar os pés. Pois, se o gesto da cruz, por amor, só pode ser realizado por ele, Jesus, o gesto de serviço, o dom de si, por amor, pode ser realizado por cada um de nós.
O que Jesus faz aqui não é apenas um gesto de despedida. É um último ensinamento para seus discípulos, portanto, para cada um de nós. Quando contemplamos essa atitude de Jesus, percebemos que toda nossa vida faz sentido na prática do amor fraterno. Toda nossa vida faz sentido no dom de nós mesmos. O dom do sacerdócio só tem sentido se estiver a serviço do povo de Deus. O dom da Eucaristia só faz sentido se nos colocarmos a serviço de cada irmão e irmã; o dom de Cristo só faz sentido se vier nos “sacudir a alma” profundamente para que vivamos na prática a caridade fraterna, o amor até o fim. É um movimento de ascensão que nos leva para o alto, mas não sozinhos. Cristo vai conosco! E neste movimento de vida, devemos aprender a dar, mas também a receber.
Ao refazer este gesto de lavar os pés no meio do povo o sacerdote não faz uma repetição simbólica deste gesto realizado por Jesus. Mas, para cada um de nós, é um lembrete de nossa vocação cristã: somos chamados a nos doar, a amar até o fim. É um convite a nos deixar transformar, mudar. Mas também a saber acolher. Tomemos o tempo necessário para considerar a importância do dom de nós mesmos, arraigados em Cristo, pois, se o gesto da cruz por amor só pode ser realizado por Jesus, o gesto de serviço, o dom de si por amor pode ser realizado por cada um de nós.
O Senhor passa pelo meio de nós. E ele quer permanecer conosco para que entremos com ele na luz da Vida!