30º Domingo do Tempo Comum • Ano C | 2025

Pe. Emmanuel Albuquerque

Na liturgia de hoje duas coisas se sobressaem: a humildade como porta de entrada de uma relação sincera com o Senhor; e a oração, como o meio pelo qual essa relação pode crescer e nos ajudar a amadurecer. Já domingo passado encontramos o tema da oração, exemplificado pela viúva que de tanto incomodar o juiz injusto, alcançou seu objetivo. Hoje temos o cobrador de impostos. Qual o ponto comum entre eles? Não é a questão material, o cobrador de impostos é certamente rico. Mas embora ele seja rico, o ponto comum entre os dois é uma forma de pobreza: a viúva, pobreza material. O cobrador de impostos, uma pobreza moral: ele era rejeitado, visto como um inimigo e tratado com indiferença. E os dois, tanto a viúva quanto o cobrador de impostos, são conscientes de suas pobrezas respectivas. O que faz Jesus aqui, hoje, é revelar uma verdade importante da nossa vida humana: não existe justiça nem relação verdadeira com Deus se nossa atitude despreza o próximo.

Quando Jesus conta essa parábola ele o faz para “alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros”, dito de outra forma, ele conta a parábola para aqueles que se consideram mais importantes que os outros. Acreditar e se posicionar como superior nos tira a possibilidade de olhar para o outro (e para nós mesmos) como alguém igualmente amado, frágil e necessitado de cuidado e da misericórdia de Deus. Considerar-se superior nos corta da relação, lugar da revelação daquilo que somos e do dom do amor sincero e que cura.

Sejamos bem conscientes que o que Jesus diz no evangelho de hoje é uma parábola! E por que é necessário ter essa consciência? Porque nem todos os fariseus são como o exemplificado no evangelho e nem todo cobrador de impostos é como o que reza reconhecendo a sua própria fragilidade e pecado. É importante lembrar que é uma parábola porque o objetivo é que possamos, cada um de nós, pensar e refletir sobre nossas próprias atitudes e nossa maneira de nos apresentar diante de Deus, como falamos de nós para Ele e como apresentamos os outros. E por quê? Porque ora somos como o fariseu, orgulhos e cheios de si; ora somos como o cobrador de impostos, humildes e conscientes de que somos necessitados de Deus.

Aceitemos então o convite sincero da liturgia de hoje para que entremos no caminho da humildade. Mas da verdadeira humildade: aquela que nos faz reconhecer a nossa própria verdade (não a verdade que justifica nossos erros nem nossas atitudes injustas), mas a verdade que revela aquilo que somos e temos, nossas riquezas e talentos, nossos dons... sem arrogância nem autossuficiência, mas aceitando e acolhendo igualmente nossos limites e nossa dependência de Deus. Ser humilde não é se desvalorizar, mas reconhecer com verdade aquilo que carregamos em nós. É ter uma justa estima de si, sabendo que o outro é tão importante e tão frágil quanto nós. Nessa perspectiva, humilhar-se não é se rebaixar, mas reconhecer-se pequeno diante de Deus e da vida, e por isso mesmo reconhecer que o outro merece igual dignidade, cuidado e respeito. Mais que isso, que o outro é mais importante porque através dele Deus se revela a cada um de nós. É justamente isso que fazemos quando rezamos o ato penitencial: reconhecemos nossa pequenez, a grandeza de Deus que nos perdoa, e a grandeza do outro, que intercede por nós. Que assim seja no nosso dia a dia.  E que Deus seja Deus naquilo que é frágil em cada um de nós.

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