1 Novembre 2025
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Pe. Emmanuel Albuquerque
Pobres, aflitos, esfomeados pela justiça, os perseguidos... eis os fracassados, diante do olhar do mundo. Nenhum conseguiu a brilhante oportunidade de ser mais, de fazer mais, de ter mais... porque para muitos, “vale quem tem, pode e conta.[1]” E nessa leitura superficial da existência, podemos considerar fracassados e infelizes aqueles que não ostentam uma vida aparentemente bem-sucedida. E isso desde os primórdios da humanidade. E aí vem Jesus e diz àqueles que consideramos infelizes: bem-aventurados. É uma reversão de valores.
Bem-aventurados. Na boca de Jesus, essas palavras não são uma maneira de acalmar os ânimos para que os pobres se contentem, os aflitos se resignem e os perseguidos se entreguem. Quando Jesus entrega para “as multidões” as bem-aventuranças, Ele fala ao povo rejeitado, à humanidade oprimida pelo mal, e Ele diz que essa existência vale a pena apesar de tudo, porque existe uma promessa. E aos considerados “fracassados” ele manifesta seu carinho, ele entrega sua carta magna, ele devolve a dignidade. E tudo o que Ele afirma aqui, é o que Ele vive na sua paixão e morte, e na sua ressurreição. Sendo crucificado Jesus é a figura por excelência do pobre, do aflito, daquele que é injustiçado, mas também do manso, do misericordioso, do puro de coração. E ressuscitando, Ele nos abre as portas do Reino dos céus no qual encontraremos o consolo, seremos saciados e herdeiros dessa terra prometida! As bem-aventuranças são a “carta de identidade do Filho”, deste filho que nos torna filhos para que sejamos, entre nós, irmãos!
Quando a Igreja faz memória dos santos, ela nos recorda que os fracassados não são aqueles que o mundo assim declara. Os santos são aqueles que ousaram ter a coragem de manifestar sua adesão ao plano divino. Considerando Deus como Ele é e o que Ele é: Criador e Pai, digno de louvor e adoração. E considerando o outro como ele é e o que ele é: filho de Deus, irmão na fé, companheiro de caminhada. Assim, quando Jesus proclama as bem-aventuranças do alto da montanha, Ele nos convida a subi-la para encontrá-lo e não irmos sozinhos. Ir até ele é saber que o nosso coração tem que ser capaz de acolher o outro, como nos afirma o salmo de hoje. Subirá até o monte do Senhor “quem tem inocente coração, quem não dirige sua mente para o crime.” Porque aquele que é santo leva consigo aqueles com quem partilha a mesma humanidade.
Jesus fala às multidões e o Apocalipse nos mostra “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas”, que estavam “de pé diante do trono do Cordeiro.” Saberemos que “esses são os que vieram da grande tribulação” e permaneceram de pé! Estar de pé é o sinal do povo ressuscitado. Estar de pé é a imagem forte daquele que sabe que Deus não engana. Permanecer de pé é saber que o fracasso não é ser pobre, sentir fome ou estar aflito. Mas é fechar seu coração para o amor, para a prática da misericórdia e abri-lo para a maldade, a indiferença e o julgamento. Somos o povo de Deus, somos filhos de Deus. Olhemo-nos com sinceridade e perguntemo-nos se somos capazes de ajudar ao que tem fome, de consolar ao que chora, de acalmar o aflito? Se assim fizermos, trilharemos o caminho da santidade que nos é oferecido, subiremos a montanha santa. Se assim vivermos, ainda que aos olhos do mundo sejamos “fracassados”, permaneceremos de pé “diante do trono do Cordeiro” porque seremos realmente o povo santo de Deus que, esperando a entrada no Reino, vive uma vida autêntica, verdadeira e bem-sucedida, não porque temos isso ou aquilo, mas porque vivemos já no presente a verdadeira felicidade, ser de Deus e estar com Deus.
[1] Uma comunidade lê o Evangelho de Mateus. Leitura Pastoral da Bíblia. Silvano FAUSTI. Ed. CNBB.