2 Novembre 2025
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Pe. Emmanuel Albuquerque
Ontem celebramos todos os santos, aqueles que, na fidelidade a Deus, já habitam a vida plena e nos inspiram na nossa caminhada. Hoje nos reunimos para lembrar e rezar por aqueles que partiram: nossos entes queridos, irmãos e irmãs da fé. Essas duas festas são faces da mesma realidade: a comunhão dos que caminham, dos que esperam e dos que já contemplam.
Vivemos no tempo da espera. E podemos nos questionar sobre como esperamos? No Evangelho Jesus nos diz: “estejam com os rins cingidos e as lâmpadas acesas”, ou seja, ele nos chama a viver uma espera ativa: prontos como servos que aguardam o retorno do Senhor. Essa vigilância não é ansiedade estéril; é uma presença amorosa no mundo. Esperar, no sentido cristão, é trabalhar com fidelidade no hoje, como quem prepara a casa para um encontro querido. O convite de Jesus para vigiar é viver o presente com os olhos fixos na eternidade; é amar com intensidade, perdoar com generosidade, servir com alegria.
Toda a liturgia de hoje nos coloca no centro de um mistério que não elimina a dor, mas a transforma. Para nós, cristãos, nossa dor é transformada com a ressurreição de Cristo que nos dá um horizonte no qual a morte não é fim, mas passagem. Jó prefigurou essa realidade no meio do seu sofrimento. Abandonado por todos, rejeitado pelos próprios amigos, ele exclamou: “eu sei que o meu Redentor vive”, este é o grito da esperança. E é essa certeza que sustenta o nosso olhar quando a morte bate à nossa porta. A ressurreição de Jesus é a garantia de nossa própria vida transformada. A promessa cristã não é um conforto vago: é a certeza de que, em Cristo, todo o nosso passado, presente e futuro são abraçados pelo amor de Deus. E se “com ele morremos, com ele viveremos.”
É graças a essa esperança que hoje não apenas recordamos nomes, nós os oferecemos ao Senhor na Eucaristia e os confiamos à Sua misericórdia. Muitas vezes, quando a morte nos toca de perto, o coração se aperta, e a fé parece frágil. Mas a certeza de Jó, é a nossa certeza: “Eu sei que o meu Redentor está vivo, e eu o verei com meus olhos.” Cada lembrança é oração, cada lágrima, um gesto de amor que se une ao sacrifício redentor. E enquanto caminhamos nesta terra, somos chamados a viver vigilantes e esperançosos: com as lâmpadas acesas, prontos a acolher o Senhor que vem. E assim fazendo, ser sinais de esperança no mundo.
Somos chamados a transformar o olhar daqueles que já não sabem mais esperar. Contemplando o Cristo, vitorioso, nos transformamos em testemunhas dessa vitória porque “o homem se torna aquilo que vê: quem olha a morte, se torna seu filho e produz a morte. Quem olha o Senhor Jesus possui sua mesma vida de Filho do Pai.*” Para onde queremos olhar? O que queremos escolher?
Que a certeza do Redentor vivo nos sustente; que, como Maria e como os servos vigilantes, possamos permanecer firmes na fé, transformando a saudade em confiança e o luto em caridade. E que, no dia em que for derrubado todo véu, nos reencontremos com todos os que amamos, na alegria sem fim.
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*Uma comunidade lê o evangelho de Lucas. Leitura Pastoral da Biblia. Silvano Fausti. Ed. CNBB.